Em 1980 movidos pela necessidade de viverem em Comunidade Alternativa, os fundadores

do  Instituto  Beija  Flor  foram  morar no pé da Montanha Mataquirí, no Município de

Cascavel.  A  Montanha  Mataquirí  com  seus  180  metros  de  altura é um sítio notável

que  serve  de  referência   aos  Capongueiros  ( jangadeiros  da  Região  da  Praia  da

Caponga),  para alcançarem a costa do Município. É neste cenário que se desenvolve há

 

                 Montanha Mataquiri ao fundo. Foto tirada da estrada da Moita Redonda. Foto: Daniel Simões

pelo menos 310 anos, a cultura do  Sistema  de  Artesanato do Município de Cascavel

-Ceará. Naqueles anos idos, encontraram-se com a Força das Artesãs e das suas famílias

que  sobreviviam  das  antigas  culturas:  a  arte  do  barro  (as loiceiras do barro); renda

tradicional da praia; o artesanato da palha da carnaúba; a arte do Cipó de fogo. Até hoje,

as que restam ainda sobrevivem em situação de pobreza, falta de apoio e reconhecimento

do  seu  valor,  apesar  de  seu  arranjo  produtivo  ser  até hoje fundamental e de grande

importância para economia e para a sobrevivência do povo desta região.  Nesse  contexto

vislumbramos desenvolver,  um  dia, um trabalho que valorize essa cultura e a arte destas

mulheres  guerreiras  da  Mataquirí.  A  partir  da vivência desta realidade,  ficamos com a

memória presa nesta proposta e cheios de esperança de trazer uma melhora da qualidade

de vida e apoio para estas Artesãs.

             Detalhe da comunidade da Moita Redonda. Na estrada, barro secando ao Sol. Foto: Daniel Simões

Instituto  Beija  Flor  foi  fundado  com  vários  objetivos.   Um   dos   principais  é  a

valorização  deste  trabalho  artesanal,  esquecido e desvalorizado  pela governança local,

estadual e federal. Com a valorização da diversidade cultural do nosso povo pelo Governo

do  Presidente  Luiz  Inácio  Lula  da  Silva,  vislumbramos  uma  luz no fim do túnel. Em

2004,   o   Ministério   da  Cultura  abre  edital  no  Programa  Cultura  Viva  da  antiga

Secretaria  de  Programas  e  Projetos  Culturais  valorizando  os  Pontos  de Cultura,

dentro  de  uma  visão  antropológica  –  o  do-in  antropológico  do ex-Ministro da Cultura

Gilberto  Gil  -  sabendo  que  os  Pontos  de Cultura já existiam; o que precisavam e ainda

precisam é de uma energizada, uma força do governo federal.  Assim, conseguimos realizar

o  Convênio  entre o MinC e o Instituto Beija Flor com o Projeto Lampião da Arte e da

Cultura.  As  atividades  desta  iniciativa  são  desenvolvidas na Escola Pública através da

transmissão  dos  saberes  e  práticas  acumuladas  há  mais  de 310 anos  no Sistema do

Artesanato  de  Cascavel,  Ceará,  pelas  próprias  artesãs  das Comunidades locais, com

foco na arte do Barro da Moita Redonda. A metodologia se desenvolve numa grade de aulas,

onde passo a passo é revelado todo o conhecimento desta Arte Ancestral.  Além  das aulas

                         Potes de modelo ancestral com forno para cozedura do barro. Foto: Daniel Simões

no  Ponto  de  Cultura  e  na  Escola  Pública,   os  alunos  participam  das  aulas  vivas  na

comunidade, nos ateliês (quintais) das Artesãs transformados em verdadeiras Escolas Vivas.

A  iniciativa já envolveu 30 mestras artesãs do barro e mais de 100 jovens e sempre que se

desenvolve é acompanhado por educadores de apoio aos mestres e mestras.  O  projeto se

manteve através do convênio entre o MinC e  o Instituto Beija Flor.  O principal critério e

procedimento adotados para uma pessoa participar das atividades do  projeto  Lampião  da

Arte  e  da  Cultura  é  a  vontade  de  querer  melhorar  a  vida, os seus conhecimentos e

desenvolver uma Arte Ancestral que gera trabalho e renda de imediato.  Quanto  aos jovens

e  crianças,  precisam  estar  matriculados  e  freqüentando  a  escola  formal.  A   iniciativa

é  desenvolvida  como  uma  ação  educativa  complementar  ao  currículo  formal da Escola

Pública.   É  neste  contexto,  visando  proteger,  divulgar,  preservar,  guardar  e  buscar  a

sustentabilidade  ampla  dessas  manifestações  culturais  de caráter popular, que se coloca

o  projeto  do  Instituto  Beija  Flor  da  Cultura  Arte Educação Ambiental e Cidadania.

Propõe  agregar ao produto artesanato o seu conteúdo ancestral, promovendo a difusão e a

guarda  dessa  cultura,  com  vias à geração de emprego, renda e desenvolvimento cultural,

social e econômico, melhorando a qualidade de vida das famílias da comunidade.