O tradicional Município de Cascavel no Estado do Ceará, com cerca de 70.000 habitantes - por
encontrar-se no eixo Leste do litoral cearense, no Caminho de Beberibe, Morro Branco, Aracati e Canoa
Quebrada - é um dos Municípios que possui grande de fluxo de turistas, tanto do Brasil, quanto de
estrangeiros. Este grande potencial está, até hoje, sendo explorado de forma insuficiente e
inadequada, sem uma organização sustentável para as comunidades ancestrais e sem apoio algum da
política pública mais firme de todos os governos: municipal, estadual e federal. A cidade de Cascavel
possui vários atrativos turísticos, incluindo o Sistema de Artesanato Local. Este está presente em
Frente da Sede do Ponto de Memória Museu Vivo do Barro:
uma casa feita de taipa, uma representação das antigas casas dos mestres do barro
toda sua Costa litorânea e no interior, bem como em vários distritos do Município. Essas antigas
comunidades sobrevivem, basicamente, da forma ancestral de produção das suas artes, as quais são
exploradas por redes de atravessadores estrangeiros e empresários da capital, os quais,
aproveitando-se da vulnerabilidade econômica dos mestres e das mestras/artesãs, exploram a sua
mão-de-obra em sistemas produtivos que descaracterizam o seu saber tradicional e a forma ancestral
de fazer peças de artesanato - em particular a arte da cerâmica, na região mediana de Moita Redonda
do Município de Cascavel, entre a região da palha de Carnaúba (que fica no interior, na beira do Rio
Choro) e a região da mulher rendeira que fica mais ao mar. Essa descaracterização e falta de
apoio por parte de políticas públicas que suporte a sustentabilidade ampla ao Sistema do Artesanato
Ancestral Local, está levando essas culturas ao esquecimento e conseqüente extinção.
Vista lateral da Sede do Ponto de Memória Museu Vivo do Barro
A antiga Feira de São Bento, que acontece todos os sábados em Cascavel, Ceará, é a maior feira da
Região Leste do Estado do Ceará e por si só, ainda hoje, é um dos grandes atrativos turísticos,
envolvendo cerca de oito (8) municípios que todos os sábados, ali se encontram para expor e vender os
produtos da região que vão desde o artesanato com o barro, passando pelo Cipó de Fogo, a renda da
Pote Grande sendo colocado na frente da Sede do Ponto de Memória Museu Vivo do Barro no dia da inauguração
praia, a produção agrícola, a pesca artesanal, até à agricultura familiar e muito mais. Ainda hoje, o visitante
atento poderá com sorte encontrar os repentistas e cantadores tradicionais da Região que
costumavam tirar o repente com o turista, daquela forma repassando os saberes tradicionais, valorizando
e informando o visitante sobre a cultura local e os atrativos turísticos naturais, históricos e culturais da sua
terra.
Turistas, visitantes e alunos assinam o Livro de Visitas na entrada da Sede do Ponto de Memória Museu Vivo do Barro
Das Praias de Cascavel, ressaltamos um exemplo vivo de patrimônio cultural: a comunidade
Quilombola de Balbinos, antiga Aldeia indígena que sofreu no século XVIII uma forte miscigenação
entre os índios e negros que ali se refugiaram fugidos das fazendas. Até hoje pode se identificar os
elementos de seus traços étnicos, físicos e culturais dos habitantes do lugar. A comunidade sempre
viveu em harmonia com o meio ambiente ( mangue, praias, lagoas, rio, dunas, terras e o mar) de
onde sempre tirou sua sobrevivência. A partir da violenta especulação imobiliária iniciada nos anos 80,
que tanto agrediu os moradores - queimando suas casas, destruindo os seus recursos naturais, etc.
Escolas fazem visitas guiadas ao local.
Os jovens e as crianças onde aprendem sobre a vida e técnicas ancestrais e modernas da arte do barro.
Na foto, a representação da antiga cozinha do mestre do barro, com várias peças em exposição
A Comunidade dos Balbinos transformou-se num símbolo de resistência aos empresários exploradores
inescrupulosos que chegaram com o apoio do poder público, invadindo a sua terra. Mesmo após a
vitória legal conquistada e transformada na APA dos Balbinos em 1997, atualmente podem ser
vistas casas de invasores: mansões de veraneio de poderosos empresários que construíram a seu bel
prazer, descaracterizando completamente a paisagem, trazendo uma influência indesejável aquela
comunidade, que pode afirmar-se como uma das únicas no Brasil. Balbinos tem uma área de
Proteção Ambiental, com 245 hectares de extensão, aproximadamente com 200 famílias e muitas
belezas naturais e culturais. Possui o título definitivo de suas terras, entregue em maio de 1997, pelo
então Governador do Estado.
Representação do quarto do mestre do barro, em exposição na Sede do Ponto de Memória do Museu Vivo do Barro
Estes são só alguns exemplos da diversidade de riquezas culturais e tradicionais do Município de
Cascavel, Ceará, que o Instituto Beija Flor pretende preservar e fazer crescer.
Algumas peças e matéria-prima em exposição na Sede do Ponto de Memória Museu Vivo do Barro
Este antigo projeto do Instituto Beija Flor - alcunhado pelo próprio dirigente atual como Museu Vivo do
Barro – teve, este ano, a oportunidade de receber a classificação de Ponto de Memória do Instituto
Brasileiro de Museus - num momento importante para a nossa instituição. O Instituto Beija Flor vem, a
duras penas, trabalhando há mais de uma década por uma política pública de estado que empodere os
principais atores do cenário social e cultural das comunidades que desenvolvem uma economia criativa
ancestral, buscando dar a voz aos Mestres e mestras artesãos. Estes mestres e mestras são
demasiadas vezes enganados por oportunistas aventureiros que vem de longe com o intuito de
ganharem muito dinheiro e enriquecerem de formas inescrupulosas, explorando pessoas que, como estes
mestres e mestras, são credoras do Direito e da Justiça social, merecendo verdadeiramente
protagonizarem a sua própria história, gerenciar os seus próprios projetos e os seus recursos, melhorando
a condição das suas tão sofridas vidas.